Ninguém te contou

Muitos lhe deram apoio quando você decidiu concorrer ao cargo de diretor escolar, lhe deram motivação, disseram que precisavam de alguém como você e muitos outros argumentos para te convencer a participar do pleito.

Vitória. Você ganhou as eleições e ai está você as voltas com a gestão escolar e todas as suas “nuances” administrativas, tão distantes da sua sala de aula.

Neste momento de perplexidade, às vezes de desespero, enxerga que uma escola é muito mais do que você imaginava. Grande, diversa, pais, alunos, professores, coordenadores, servidores administrativos, estagiários, APM, Colegiado, Grêmio estudantil, etc…como é que não vi isso antes? Ninguém me falou!

São tantas as emoções diárias como gestor escolar que nem sei por onde começar. A dica é começar devagar, sem ir com sede ao pote. Leia muito, busque formação para ser um bom gestor e conte com o apoio da equipe. O diretor não faz a escola sozinho.

Vou lhes contar o que ninguém te contou sobre ser diretor escolar.

1 – O que você achava que sabia sobre ser diretor, deleta. Não importa quantos anos de docência você tenha, você acredita que conhece o trabalho desenvolvido pelo seu diretor. Não se engane. As atribuições da direção escolar definidas em um edital passam longe da realidade. Você não terá a melhor sala, não é só cumprir horário e dar ordens. Você não terá tempo para sentar e a demanda será enorme para que a sua gestão flua.

2 – Se você perguntar a qualquer diretor: “Depois que você assumiu a direção, conseguiu cumprir seu horário?”. Provavelmente a maioria das respostas será “não, nem horário almoço”.

Descobrirá que mesmo com um planejamento sempre acontecerão imprevistos, tipo com alunos, com pais, com professores, patrimônio, ligação da SED solicitando isso ou aquilo até tal hora, e por ai vai.

3 – Se algo acontecer na escola, não importa o horário, olha você correndo para lá. O ar condicionado está pegando fogo, o muro da escola caiu, a escola foi invadida por vândalos, a dedetização precisa da presença da direção, e por ai vai. A responsabilidade do patrimônio escolar é toda sua.

4 – A prestação de contas exige muita responsabilidade. E é toda sua também. Tem de lidar com os vários recursos e cada verba funciona de um jeito diferente.

A verdade é que a mantenedora não lhe preparou na prática como gerir a sua escola. Deve procurar por seus meios cursos de qualificação que lhe permita aprimorar suas habilidades de gestão.

Existem vários manuais que podem auxiliar na gestão, mas é preciso localizá-los e estuda-los antes de lidar com esses recursos.

A APM auxilia nesse gerenciamento, pelo menos em tese, uma vez que a maioria de seus membros não tem ideia de como usar os recursos.

Além disso você ainda terá de lidar com informática, planilhas de Excel, formulários do Word, tabelas e outros.

5 – Enfrentará muitas mudanças na relação com a equipe. Essa relação com a equipe muda constantemente, embora no início parece que nada mudará. Mas chegará um momento em que você descobrirá que as notícias começarão a chegar por terceiros. Isso porque a relação da direção se torna mais horizontal, afinal agora você é chefe. Por mais que tente se aproximar a postura enquanto gestor, de alguém que dá ordens e aplica cobrança passa a prevalecer. Haverá a necessidade como gestor de olhar para o coletivo. Haverá momentos em que a equipe cobrará uma posição sobre isso ou aquilo e isso lhe fará rever conceitos e opiniões que tinha quando estava na sala de aula.

6 – As relações com pais, alunos e comunidade mudará. Na sala de aula você tinha uma clientela e convivia cotidianamente com eles. Ao tornar-se gestor a escola aumentou de tamanho e responsabilidades. Agora há um distanciamento nas relações, passam a te olhar de forma diferente. E nessa posição há de rever os tratamentos e iniciar uma aproximação com todos. Descobrirá, por exemplo, que o cargo lhe dará mais respeito junto aos pais e a comunidade escolar.

7 – Existem demandas pedagógicas diretor, não é só administrar. A organização da rotina vai ajudar nessa situação, pois além de administrar a escola, ainda precisa olhar para a demanda pedagógica, ser parceiro da coordenação pedagógica, acompanhar a qualidade do ensino e criar oportunidades de capacitação para a equipe. Isso significa também ler mais e participar de formações para estar por dentro da rotina pedagógica.

8 – Terá de olhar para a comunidade externa. Educar a vizinhança será complicado, pois acontecerá de encontrar lixo jogado nas calçadas da escola, por exemplo. Qual será a sua estratégia para reeducar essa vizinhança?

9 – Os desafios da direção são tantos e tão grandes que se leva a pensar se foi uma boa ideia tornar-se diretor. Ao se deparar com a falta de capacitação prática e profissionalização da gestão escolar, se dará conta de que o salário não acompanha o tamanho da responsabilidade adquirida.

10 – Você estará só. Na direção você não contará com um parceiro que tenha os mesmos desafios que você. Às vezes não adianta ter contato com outros diretores, pois as realidades são diferentes. Chegará uma hora em que terá de fazer escolhas difíceis, como por exemplo, dar orientações a servidores sobre seus serviços ou sobre comportamentos, ou ainda, tomar decisões sobre quais as prioridades fará com o recurso da manutenção. Por mais que a gestão seja democrática, a responsabilidade paira sobre os ombros da direção.

11 – As demandas burocráticas são tantas que não se sabe quantas assinaturas você faz por dia. São declarações, transferências, históricos, deferimento de matrículas, documentos oficiais, etc. Você terá a impressão que sua vida se resume a delegar tarefas, acompanhar o andamento das demandas, corrigir o que está errado e organizar a escola. Ainda terá sua mesa tomada por papéis como pesquisas de preços, solicitações, orientações da SED, prestação de contas, etc. fique de olho nos prazos, não queremos pagar uma “glosa”, não é? São tantas as emoções!

E você? Qual foi o choque de realidade que quase o derrubou da cadeira?

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